Na
primeira semana de 2012, veículos da mídia de grande circulação divulgaram
informações parciais e incorretas sobre o uso de pesticidas nos
alimentos.
Nós, da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela
Vida, contestamos essas informações e, com base no conhecimento de diversos
cientistas, agrônomos, produtores e distribuidores de alimentos orgânicos,
aproveitamos essa oportunidade para dialogar com a sociedade e apresentar nossos
argumentos a favor dos alimentos sem venenos.
1 - O nome correto é
agrotóxico ou pesticida e não “defensivo agrícola”.
Como afirma a
engenheira agrônoma Flavia Londres: “A própria legislação sobre a matéria
refere-se aos produtos como agrotóxicos.”
E o engenheiro agrônomo Eduardo
Ribas Amaral complementa: “Mundialmente o termo utilizado é ‘pesticida’. Não
conheço outro país que adote o termo ‘defensivo agrícola”.
2 - O nível
de resíduos químicos contido nos alimentos comercializados no Brasil é muito
preocupante e requer providências imediatas devido aos sérios impactos que gera
na saúde da população.
Voltamos a palavra à engenheira agrônoma Flavia
Londres: “A revista se propõe a tranquilizar a população, certamente alarmada
pelo conhecimento dos níveis de contaminação da comida que põe à mesa. Os
entrevistados na matéria são conhecidos defensores dos venenos agrícolas, alguns
dos quais com atuação direta junto a indústrias do ramo. Os limites ‘aceitáveis’
no Brasil são em geral superiores àqueles permitidos na Europa – isso pra não
dizer que aqui ainda se usam produtos já proibidos em quase todo o mundo”.
O engenheiro agrônomo Eduardo Ribas Amaral nos traz outra informação igualmente
importante: “A matéria induz o leitor a acreditar que não há uso indiscriminado
de agrotóxicos no país, quando a realidade é de um grande descontrole na
aplicação desses produtos, fato indicado pelo censo do IBGE de 2006 e
normalmente constatado a campo por técnicos da extensão rural e por fiscais
responsáveis pelo controle do comércio de agrotóxicos”.
3 - Agrotóxicos fazem
muito mal à saúde e há estudos científicos importantes que demonstram esse
fato.
Com a palavra a Profª Dra. Raquel Rigotto, da faculdade de Medicina
da Universidade Federal do Ceará: “No Brasil, há mais de mil produtos comerciais
de agrotóxicos diferentes, que são elaborados a partir de 450 ingredientes
ativos, aproximadamente. Os agrotóxicos têm dois grandes grupos de impactos
sobre a saúde. O primeiro é o das intoxicações agudas, aquelas que acontecem
logo após a exposição ao agrotóxico, de período curto, mas de concentração
elevada. O segundo grande grupo de impactos dos agrotóxicos sobre a saúde é o
dos chamados efeitos crônicos, que são muito ampliados. Temos o que se chama de
interferentes endócrinos, que é o fato de alguns agrotóxicos conseguirem se
comportar como se fossem o hormônio feminino ou masculino dentro do nosso corpo;
enganam os receptores das células para que aceitem uma mensagem deles. Com isso,
se desencadeia uma série de alterações – inclusive má formação congênita; e hoje
está provado que pode ter a ver com esses interferentes endócrinos. Pode ter a
ver com os cânceres de tireóide, pois implica no metabolismo. E cada vez temos
visto mais câncer de tireóide em jovens. Pode ter a ver com câncer de mama. E
também leucemias, nos linfomas. Tem alguns agrotóxicos que já são
comprovadamente carcinogênicos.Também existem problemas hepáticos relacionados
aos agrotóxicos. A maioria deles é metabolizada no fígado, que é como o
laboratório químico do nosso corpo. E há também um grupo importante de
alterações neurocomportamentais relacionadas aos agrotóxicos, que vão desde a
hiperatividade em crianças até o suicídio.”
De acordo com o
relatório final aprovado na subcomissão da Câmara dos Deputados que analisa o
impacto dos agrotóxicos no país (criada no âmbito da Comissão de Seguridade
Social e Saúde), há realmente uma “forte correlação” entre o aumento da
incidência de câncer e o uso desses produtos. O trabalho aponta situações reais
observadas em cidades brasileiras. Em Unaí (MG), por exemplo, cidade com alta
concentração do agronegócio, há ocorrências de 1.260 novos casos da doença por
ano para cada 100 mil habitantes, quando a incidência média mundial encontra-se
em 600 casos por 100 mil habitantes no mesmo período.
Como afirma o relator,
deputado Padre João (PT-MG), “Diversos estudos científicos indicam estreita
associação entre a exposição a agrotóxicos e o surgimento de diferentes tipos de
tumores malignos. Eu concluo o relatório não tendo dúvida nenhuma do nexo causal
do agrotóxico com uma série de doenças, inclusive o câncer”, sustenta. Fonte:
Globo Rural On-line, 30/11/2011.
4 - Não é possível eliminar os
agrotóxicos lavando ou descascando os alimentos já que eles se infiltram no
interior da planta e na polpa dos alimentos.
A única maneira de ficar
livre dos agrotóxicos é consumir alimentos orgânicos e agroecológicos. Não
adianta lavar os alimentos contaminados com agrotóxicos com água e sabão ou
mergulhá-los em solução de água sanitária ou, mesmo, cozinhá-los. Os resíduos do
veneno continuarão presentes e serão ingeridos durante as refeições.
Além
disso é importante lembrar que o uso exagerado de agrotóxicos também faz com que
estes resíduos estejam presentes nos alimentos já industrializados, portanto, a
melhor forma de não consumir alimentos contaminados com agrotóxicos, é eliminar
a sua utilização
5 - Os orgânicos não apresentam riscos maiores de
intoxicação por bactérias, como a salmonela e a Escherichia coli.
Segundo
a engenheira agrônoma Flávia Londres: “Ao contrário dos resíduos de agrotóxicos,
esses patógenos– que também ocorrem nos alimentos produzidos com agrotóxicos –
podem ser eliminados com a velha e boa lavagem ou com o simples
cozimento”.
A Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
recomenda o documentário “O Veneno está na Mesa”, de Silvio Tendler, totalmente
disponível no site da campanha (
www.contraosagrotoxicos.org) bem como todos os
materiais disponíveis na página.
Participe você também nos diferentes comitês
da campanha organizados nos diversos estados do Brasil, para maiores contatos
envie e-mail para
contraosagrotoxicos@gmail.com
27 de Janeiro de 2012.